Abstract
O presente texto tem como objeto uma pergunta e como objetivo não a responder de modo definitivo, mas problematizá-la, mostrando os limites da concepção de razão aristotélica quando se trata da apreensão correta do fim da ação. A pergunta é a seguinte: como o bom fim da ação é apreendido? A resposta não é evidente por dois motivos: o primeiro é que Aristóteles nos diz que a virtude moral é responsável pela correta apreensão dos fins, sem deixar claro em que sentido ela é responsável. O segundo motivo é que o filósofo sustenta que a função racional concernente às ações é essencialmente deliberativa e que a deliberação diz respeito aos meios e não ao fim da ação. Afinal, o que significa dizer que a virtude moral produz o alvo correto? Quais capacidades estão em jogo para que se constitua o bom fim a ser desejado? Posta a dificuldade, o objetivo deste texto é antes o de elaborar os meandros concernentes ao problema da apreensão do fim da ação presente na Ética Nicomaqueia, de Aristóteles, do que o de fornecer mais uma resposta dentre as várias já existentes. Todavia, em diálogo com as interpretações racionalista e irracionalista da ética aristotélica, é aventada a hipótese de haver uma razão persuasiva partícipe do desejo capaz de apreender o bom fim.