Abstract
Neste trabalho discuto a natureza e a estrutura de análise da ignorância proposicional. Meu objetivo é de apontar que, em primeiro lugar, diferentemente de como ao menos duas das principais concepções da epistemologia da ignorância têm pressuposto, a análise da ignorância proposicional não se reduz a estrutura “S é ignorante que P” ou variantes semelhantes a esta estrutura. Ao lerem a ignorância proposicional reduzida em termos de “S é ignorante que P”, essas concepções não fazem a melhor análise da ignorância proposicional. Isto porque, por um lado, geram um problema que se refere a uma possibilidade pouco trabalhada. Trata-se da possibilidade da ignorância sobre proposições falsas e o problema, como será mostrado, é que nessa redução há boas razões tanto para afirmar como para negar essa possibilidade. Isso se constitui, no mínimo, como uma tensão teórica relevante que pode comprometer essas concepções e as análises realizadas a partir delas. Por outro lado, essa redução exclui ao menos um sentido geral e não necessariamente factivo de ignorância proposicional, o que nos priva de uma análise mais adequada da ignorância e de outros temas relacionados. Tendo esse problema e os seus desdobramentos em vista, apontarei, em segundo lugar, para uma hipótese que tem o potencial de dissolvê-lo a partir da reformulação de como compreendemos a ignorância proposicional, herdando as vantagens das razões a favor e das razões contra a possibilidade da ignorância sobre proposições falsas e superando as objeções levantadas contra elas.