Abstract
O presente artigo traça a génese da questão do ser em Heidegger procurando evidenciar a sua íntim a articulação com o problema da possibilidad e da Metafísica como ciência. Mostra como foi através da leitura de Aristóteles, que o filósofo se deu conta da ausência, em Metafísica, de um sentido unitário e abrangente para o conceito de ser e da necessidade de suprir esta lacuna a fim de viabilizar qualquer intento consistente de nova sistemática. A seu ver, os grandes problemas da Ontologia prendem-se com a insuficiente clarificação daquele conceito, designadamente no que concerne a sua relação com o tempo. Os principais influxos do seu percurso filosófico até ao amadurecimento da problemática da obra-magna Ser e Tempo - o sistema de Metafísica escolástica, o neokantismo e a fenomenologia - são sempre acolhidos do ponto de vista da sua pertinência para a consecução do projecto, que anima o jovem filósofo, de reforma da Metafísica. No entanto, a experiência da primeira grande Guerra mundial e da crise de sentido dela decorrente fê-lo romper com a dogmática católica e o racionalismo académico da época e procurar junto do protestantismo e da filosofia existencial, então emergente, inspiração para um novo ponto de partida filosófico. O antigo projecto filosófico radicaliza-se neste outro de teor refundacional: trata-se não apenas de reformar, mas de inovar, lançando as bases de uma nova interpretação do ser a partir do tempo.