Abstract
Eudoro de Sousa apreende a manifestação como um processo sacrificial, pelo qual um Deus intuído como Excessividade Caótica se auto-contém, metamorfoseando-se na estrutura triangular de deuses, homens e mundos. Toda a ontofania é assim teocríptica e mesmo teomáquica, sendo a Morte de Deus que vivifica o processo teo-antropo-cosmogónico, o que Eudoro reconhece como o cerne darevelação e protagonização mítico-ritual planetária. É no vértice humano do triângulo teo-antropo-cosmogónico que mais fulgura a "imagem e semelhança" do Abismo divino, sendo tal desmesura que constitui o homem na tensão entre o despojamento de deuses, mundos e de si mesmo, desvelando a "subjectividade irredutível" que eternamente o inscreve no Absoluto, e a recusa da gratuidade da Vida divina, trocando a original ociosidade lúdica pelo operoso "a fazer", intelectual e manual, da historicidade, na construção dum mundo apenas humano cujo reverso é a destruição do universo das relações primordiais, ou da inserção humananele. Aqui se funda uma incisiva hermenêutica crítica da contemporaneidade. Tendo como referência os pré-socráticos-com destaque para Heraclito-, Platão, o neoplatonismo, Schelling, Álvaro de Campos e Heidegger, e procedendo sobretudo a uma hermenêutica dos mitos e ritos da Origem, Eudoro não deixa de se inserir originalmente na mais significativa corrente do pensamento português contemporâneo, aquela que se constitui de Antero a José Marinho.