Abstract
Existe uma tese que dá conta da compatibilidade entre externalismo sobre conteúdo mental e autoconhecimento (BURGE, 1988). Esta tese, que explora a proprie-dade de autoverificação de autoatribuições do tipo “penso que p”, porém, funciona ape-nas para autoatribuições de pensamentos cuja expressão é a primeira pessoa do tempo presente do modo indicativo em seu uso assertórico. Entre os casos problemáticos estão as autoatribuições no passados e as autoatribuições de atitudes proposicionais específicas. Tal falha do compatibilismo é apontada por Boghossian (1992) como prova da in-compatibilidade entre externalismo e o autoconhecimento. Existe uma extensa biblio-grafia para dar conta das autoatribuições no passado. Em tais artigos (BURGE, 1995), defende-se a existência de uma função preservativa da memória que, salvo em situações adversas, garantiria a veracidade das autoatribuições no passado. Porém há pouca bibli-ografia sobre o outro problema da tese compatibilista, o das autoatribuições de atitudes proposicionais específicas. Este artigo propõe expandir o alcance da teoria da memória preservativa, para que ela dê conta do autoconhecimento de atitudes proposicionais pas-sadas. Para tanto, propomos critérios que definam quando uma autoatribuição de pen-samentos passados é verdadeira, mesmo nos casos em que atitude e conteúdo dos pen-samentos não sejam idênticos, mas apenas similares. O critério para similaridade de conteúdos (que garantiria a verdade de autoatribuições deste tipo) foi proposto por Ber-necker (2009), o critério para as atitudes é novo: a atitude que S pensa em t2 como tendo tido em t1 é similar à atitude em t1 sse a atitude atual for implicada pela anterior.