Abstract
A literatura crítica costuma dividir a filosofia de Sartre em duas fases: a primeira, de O ser e o nada (1943), teria uma liberdade definida abstratamente e o homem descrito de modo solipsista; enquanto a segunda fase, de Crítica da Razão Dialética (1960), teria uma liberdade pensada historicamente e o homem descrito em meio a grupos sociais.Neste artigo pretendo mostrar, contrariando a tese de ruptura entre esses dois momentos (embora admitindo que há diferença de ênfase entre eles), que na dita “primeira fase”1 a liberdade não deve ser pensada como abstrata e sem relações com a história, mas que mesmo aqui a historicidade é considerada como fundamental. Para isso, analisarei o livro principal da chamada “primeira fase” a fim de mostrar que definir a liberdade como absoluta, o que é feito em O ser e o nada, não significa, em Sartre, defini-la como abstrata, mas sim pensá-la como necessária em toda ação e em toda fuga humana, em todo exercício de libertação e em todo exercício de opressão – e se essa noção exclui a possibilidade de uma determinação total, isso não implica desconsiderar a concretude de nossas vivências.