Abstract
A pandemia irrompeu no cotidiano, modificando tempos, espaços, movimentos, conexões e formas de trabalhar. Todas as rotinas, organização doméstica e familiar foram afetadas por uma nova situação que exigiu uma série de tarefas de cuidados de saúde mas também a reconfiguração dos modos de vida até então conhecidos. Neste artigo focaremos na experiência de mulheres profissionais com filhos sob seus cuidados durante a quarentena em particular e a pandemia em geral. O objetivo é reconstruir, através de suas palavras, a experiência subjetiva das transformações e continuidades que a pandemia implicou em relação ao espaço doméstico, ao público e ao íntimo. A hipótese que organiza este artigo sustenta que o encerramento das instituições e o confinamento doméstico foram situações de elevada sobrecarga emocional, verbal e material para as mulheres com filhos e que implicaram a perda de espaços pessoais. Essa sobrecarga não estaria ligada apenas às tarefas assistenciais, mas também à piora das condições de trabalho, à concentração e à individualização de cada uma delas no contexto da impossibilidade de transferências e movimentos.