Pressupostos fundamentais da tese dos dois aspectos
Abstract
No presente artigo, pretendo analisar uma das interpretações da distinção transcendental entre fenômenos e coisas em si mesmas, a tese dos dois aspectos [the two-aspect view]. Meu objetivo é indicar e esclarecer alguns pressupostos fundamentais dessa interpretação, nem sempre explicitados pelos seus defensores. Um dos maiores desafios dessa interpretação é explicar como é possível conciliá-la com a tese kantiana da não espacialidade das coisas em si mesmas. Pretendo mostrar que a conciliação pressupõe a satisfação das três seguintes condições: em primeiro lugar, é necessário admitir que, para Kant, a relação cognitiva entre objeto e sujeito cognoscente é _constitutiva_ do objeto; em segundo lugar, é preciso conceber a identidade entre fenômeno e coisa em si mesma como uma _identidade relativa_, não absoluta; em terceiro lugar, é preciso admitir que certos enunciados sobre o objeto da cognição possuem uma estrutura lógica peculiar, a estrutura de um _juízo reduplicativo_. A análise desses pressupostos visa contribuir para a elucidação dos compromissos teóricos da tese kantiana do idealismo transcendental.