Abstract
Nas últimas décadas do século passado Pierre Hadot e Michel Foucaultrevolucionaram a história da filosofia ao, nos seus Exercices spirituels et philosophie antique e L’herméneutique du sujet, respectivamente, colocarem um imperativo ético nas origens do pensamento filosófico ocidental e firmarem que, nessa altura, a filosofia era essencialmente uma “escolha de vida” ou “modo de vida”, no caso do primeiro, e um “cuidado de si”, na expressão do último. Uma vez que ambos os autores contrastam a orientação e função originais da filosofia com a sua forma contemporânea, as suas análises têm, para além da sua clara relevância históricofilosófica, um forte potencial de crítica contra a prática académica e institucionalizada da filosofia actual. Tomando a ideia da filosofia como modo de vida como forma de dissidência contra a filosofia universitária contemporânea, e como forma de experimentação com uma compreensão e prática alternativas da filosofia, este ensaio delineia as principais características do modelo da filosofia como modo de vida no seu contraste com a prática académica conteporânea e defende a relevância do modelo para uma eventual restruturação da filosofia profissionalizada perante a actual crise nas humanidades e desafios sociais, culturais e ambientais inéditos.