Abstract
No presente artigo, buscamos defender a tese de que o jovem Marx constrói uma concepção de alienação a partir de um entendimento de ser humano inteiramente despojado do caráter abstrato que lhe era conferido por Feuerbach. Marx retoma de Feuerbach o caráter naturalista, e, portanto, materialista de sua noção de sensibilidade humana, recusando, contudo, uma perspectiva de ser humano desvinculada do “mundo das necessidades” e das “relações de trabalho”, a partir dos Anais, e, mais tarde, da própria “base terrena” da história, inaugurando com Engels um materialismo que lhes é próprio. Para demonstrar essa tese, empreenderemos, nas três primeiras partes do artigo, uma reconstrução da concepção de alienação nos diferentes textos do jovem Marx – e de Engels –, dos Anais à Ideologia, passando pelo Esboço e pelos Manuscritos. A última parte do texto será dedicada à avaliação da recepção e de possíveis críticas às concepções antropológica e da alienação marxianas. Com isso, defenderemos, retomando a tese de Mészáros, que o entendimento de alienação e de ser humano esboçado pelo jovem Marx não terá nenhuma alteração significativa em relação ao que o autor apresentará em escritos posteriores, contra a tese de uma ruptura epistemológica, tal como representada por Althusser, e contra a crítica de um jovem Marx supostamente essencialista, cuja virada conceitual se daria somente a partir da Ideologia alemã, tal como enunciada por Gianotti.