Abstract
Neste artigo, pretendo desenvolver algumas ideias em torno da relação entre as noções de sonho, sublimação e transfiguração no pensamento do jovem Nietzsche, mais especificamente, no âmbito da metafísica de artista elaborada por ele no Nascimento da tragédia. As reflexões que se seguem desdobram-se à luz do que considero ser a “teoria” do inconsciente presente neste momento de sua obra. Mesmo que o termo “sublimação” não ocorra nos textos do período, acredito que seu sentido esteja presente em diversas formulações do autor acerca do processo mediante o qual o sofrimento e os impulsos violentos e destrutivos são refreados, deslocados, transformados e como que reintegrados em torno de uma imagem consolatória capaz de amenizar o sofrimento e harmonizar as forças em atividade no indivíduo e na cultura. Minha hipótese central é que Nietzsche enxerga, na produção inconsciente do sonho, o exemplo emblemático do processo de sublimação, enquanto evento psicológico, e que este funciona como paradigma para a formulação do importante conceito de transfiguração, que assume então uma função propriamente metafísica, no interior da proposta ética de justificação estética da existência.