Eros e Philia na filosofia Platônica
Abstract
Não é fácil demarcar a diferença entre as concepções platônicas de Eros e Philia. Nos diálogos mais voltados para o assunto, como Lísis, Banquete e Fedro , identificamos uma sobreposição dos dois temas, tal que o exame de um acaba por remeter ao exame do outro. No Lísis , enquanto a Philia constitui-se como o foco da discussão de Sócrates com Menexeno, o diálogo traz como pano de fundo e com forte apelo dramático o amor de Hipótales por Lísis. No Banquete , apesar de ser Eros o tema central do diálogo, tem-se a partir do discurso de Pausânias a diferenciação entre dois tipos de Eros , de modo que o mais belo deles em muito se assemelha ao que se entende por Philia . No Fedro , por sua vez, esta aparece como um Eros mitigado. Pretendo mostrar que, nos diálogos supracitados, Platão se vale da aproximação entre Eros e Philia para fundamentar sua própria concepção de Philos sophía , na qual Eros desempenha um papel decisivo. Mais precisamente, uma concepção de filosofia na qual o que é Belo ( Eros ) deve assimilar o que é Bom ( Philia ). Para tanto, lança mão das seguintes teses: 1. O desejo é causa tanto de Eros quanto de Philia e, enquanto tal, pressupõe uma relação entre amantes/amigos; 2. O desejo é marcado por uma falta (presente ou futura); 3. O que falta é na verdade algo que foi perdido; 4. O desejo é o movimento da alma para recuperar algo perdido, a saber, a contemplação do Belo. 5. A filosofia é o percurso, guiado por Eros, para o reencontro do Belo