Abstract
No presente ensaio damos continuidade ao artigo “A lógica do Ser de Parmênides: entre a poesia e a Filosofia”, em vias de publicação pela Argumentos (revista do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Ceará). Agora pretendemos mostrar que a crítica de Górgias a Parmênides reside na diferença da concepção de ambos a respeito do ser: enquanto o eleata supõe o ser como identificado ao pensar e ao dizer, Górgias o entende como aquilo que nos afeta a partir das coisas que subsistem. Com isto, promove uma inversão dos enunciados centrais do Poema de Parmênides, afirmando que: 1) Nada existe; 2) Se existisse não poderia ser conhecido; 3) Se pudesse ser conhecido não poderia ser comunicado. Tentaremos mostrar que, além de pôr em xeque o projeto essencialista de Parmênides, inaugurando assim a vertente antiessencialista da filosofia, inverte também o movimento do pensamento do eleata: enquanto este se vale do estilo poético para estabelecer as regras lógicas da investigação filosófica, Górgias parte de uma reflexão lógico-filosófica para romper a identidade Φύσις-λόγος, retomando outra postura poética: a visão trágica, segundo a qual aos mortais não é dado conhecer nem controlar os acontecimentos.