Abstract
Fernando Pessoa é o mais alto poeta moderno de sua língua ( ). Pessoa pertence à linhagem dos poetas-engenheiros ou poetas-geômetras, que vêm de Poe e de Mallarmé. É o poeta do verbo ser e de seus desdobramentos e desenvolvimentos, por alternativas de afirmação e negação. Os heterônimos de Pessoa são um extraordinário recurso estilístico, por meio do qual ele conseguiu escrever sua poesia ao mesmo tempo em que a meditava de distâncias metalinguísticas diversas. Toda a questão da sinceridade e/ou mistificação, sobre a qual tem corrido tanta tinta, se resolve desde que compreendam os desdobramentos da heteronímia pessoana à luz dessa função de metalinguagem, que exclui do debate as conotações difusas e irrelevantes desse par de conceitos. O heterônimo diversifica o código geral da poesia geral de Pessoa num subcódigo próprio e, assim fazendo, testa e critica as possibilidades de atualização desse código. Antes que um fenômeno biográfico ou outro, trata-se de um fenômeno de texto ou de escritura.