Abstract
O presente trabalho pretende apresentar, em um primeiro momento, uma noção de interseccionalidade a partir da obra Interseccionalidade (2021), de Patricia Hill Collins e Sirma Bilge. Para tanto, em um primeiro momento consideraremos o percurso histórico de tal noção, bem como sua estreita relação com o feminismo negro a partir da ancoragem que esta noção fornece à tradição feminista negra no Brasil. É possível compreender a interseccionalidade sob diversas óticas, como um conceito, uma teoria, uma prática ou, a forma mais aceita, como uma ferramenta analítica cujo objetivo é apresentar diagnósticos e respostas para problemas sociais. Essa noção torna possível ler os diversos marcadores sociais como a classe, a raça, o gênero, entre outros, ligados a cada indivíduo e não excludentes entre si. Com efeito, esses diversos marcadores sociais se sobrepõem e se interconectam de tal maneira que operam unificadamente e interferem na nossa experiência em sociedade, fato este que joga luz à necessidade de se considerar o que Collins chama de Bases das relações interseccionais de poder, que são o domínio cultural, estrutural, disciplinar e interpessoal de poder, que englobam a relação entre o processo histórico do país e contexto cultural analisado. É nesse sentido que, a despeito da heterogeneidade do termo, é possível não apenas extrair um entendimento geral, mas também assimilar essa heterogeneidade como uma vantagem em relação a outras propostas de leitura crítica do social, o que destaca a coerência que uma teoria feminista de construção participativa exige. Dito isso, propomos expor, em um segundo momento, a partir da obra Bem mais que ideias: a interseccionalidade como teoria social crítica (2022), como se tornou um desafio para a autora explicar o objeto teórico da interseccionalidade, pois se trata-se de uma disputa epistemológica para indicar o que caberia nesse “guarda-chuva” conceitual no campo da teoria crítica. Nessa proposta, Collins nos apresenta provocações sobre o que há de crítico em teorias sociais, para destacar os espaços possíveis nos quais a interseccionalidade se torna uma alternativa de teorias de transformação do social, adicionando dispositivos de leitura do social negligenciados por outras teorias.