Abstract
Embora Bergson não seja conhecido como um pensador que dedicou parte significativa de sua obra à Estética, muito se comenta sobre a proximidade de sua reflexão filosófica com a arte, bem como sobre a força expressiva de sua prosa, que lhe granjeou, inclusive, um prêmio Nobel de Literatura. Essa ambiguidade apresenta-se em perfeita consonância com o teor do pensamento bergsoniano, fundamentalmente caracterizado pela dualidade, pela ambivalência que Frédéric Worms chamou de “dois sentidos da vida”. O que se pretende neste artigo é arriscar uma interpretação de duas categorias estéticas – a graça, como uma qualidade dos movimentos nas formas artísticas; e o cômico, esse petit problème philosophique, também aparentado com a arte –, como manifestação, no plano estético, dos “dois sentidos da vida” discriminados por Worms, na filosofia de Bergson como um todo. Espera-se que a distinção entre os sentidos pragmático e metafísico da vida repercuta também no plano estético e demonstre que as experiências das formas cômicas e graciosas representem essa ambivalência no domínio da arte, cada uma delas exprimindo uma das duas tendências para as quais a vida se encaminha.