Abstract
O artigo apresenta considerações acerca da infância na Teoria Crítica de Theodor Adorno, com foco nas reflexões acerca do corpo, da técnica e do jogo que marcam a infância como um outro da razão. A infância é retratada por Adorno como um lugar das primeiras utopias, a pátria ansiada e, desde sempre inabitada, que se torna falsa a qualquer tentativa de resgate, mas ilumina o desejo outrora experimentado num jogo com o corpo e o pensamento, o sonho e a realidade, a experiência de outra ordem da razão que alimenta a memória da natureza animal do humano, sem, contudo, estar isenta das forças históricas dominantes que incidem sobre os processos de subjetivação. Tais reflexões partem de escritos de Adorno e daquilo que seus diálogos com interlocutores, como Walter Benjamin, Freud e Huizinga, podem suscitar na análise do tema. Num segundo movimento do texto, para a compreensão dos limites e potencialidades da dinâmica atual da brincadeira mediada pela tecnologia, tomou-se como exemplo alguns estudos acerca da realidade virtual, em especial, dos jogos eletrônicos em contraposição com a teoria de Huizinga sobre o caráter sagrado no jogo. Conjecturas sobre como o contato com a realidade está danificado já na infância pela relação com a tecnologia, estabelecendo a busca por satisfação imediata, podem revelar a qualidade da atenção que as crianças recebem nos processos educativos e dar pistas sobre a crescente manifestação de transtornos sócio afetivos, que culminam na preferência por dispor o tempo e o corpo às brincadeiras eletrônicas em detrimento do contato real com as outras crianças.