Abstract
O campo interdisciplinar dos novos estudos sociais das infâncias parte de uma ruptura epistemológica com as abordagens clássicas das ciências que adotam visões biologizantes, essencialistas e universais da criança e encontra na etnografia uma possibilidade de conceituação de criança enquanto sujeito ativo e de infância enquanto categoria social geracional. O reconhecimento desses conceitos de criança e de infância pela etnografia na pesquisa com crianças implica voltar-se para a criança como o outro, o diferente, o estrangeiro. A proposta de ruptura teórico-conceitual na investigação das infâncias exige a implementação de metodologias que focalizem as experiências, os pontos de vista e as vozes das crianças, compreendendo-as enquanto processo, em outras palavras, constante construção. Portanto, para essa perspectiva, a criança não é o objeto do estudo, mas é sujeito que interage com o pesquisador na construção dos sentidos e significados da pesquisa. O texto está organizado em três partes que abordam os aspectos epistemológicos, teórico-conceituais e metodológicos do debate proposto. Ao final, procura-se uma articulação entre os diferentes aspectos da discussão, propondo uma reflexão sobre a ética e a alteridade, reconhecendo que a diferença atravessa as relações humanas e, portanto, é o diferente, o incomum, o incompreensível, o oposto, o desigual, o inalcançável que marca e define a pesquisa com criança.