Abstract
O enigma do mal, o escândalo do mal em todas as suasformas, não cessa de inquietar a consciência humana, revelando-se hoje como obstáculo principal à crença em Deus e assunindo proporções tais que as teodiceias do passado, por vezes heróicas, deixaram mesmo de ser possíveis. O presente artigo não as pretende justiflcar, nem sequer desculpar Deus. O seu ponto de partida está antes na consciência de que não se pode separar o mal e os maus, a maldade e o sofrimento, o qual é muitas vezes o reverso do crime. Para o autor, a síntese e o nó górdio da questão do mal está na infelicidade (malheurj no sentido que lhe dá Simone Weil (ódio, opróbrio e sofrimento indissoluvelmente ligados) e a figura do Servo Sofredor. O mal puro, o "mal radical", constitui um desafio à metafísica, desafio este que ela deve ter a coragem de aliviar, de questionar sem cessar, mesmo sabendo que não há solução para o problema do mal, pois que quanto mais lidamos com ele tanto mais se nos obscurece e transforma em mistério. /// The riddle of evil, the scandal of evil in all its forms, does not stop disturbing the human conscience, revealing itself today as the main obstacle to the belief in God and assuming such proportions that even the theodicies of the past, sometimes heroic, stopped being possible. This article does not wish to justify them nor even excuse God. Its starting point is rather in the conscience that evil and the evil ones, wickedness and suffering cannot be separated, which is many times the reverse of crime. According to the author, the synthesis and the Gordian knot concerning evil is in the unhappiness (malheur) according to Simone Weil's sense (hate, opprobrium and suffering indissolubly connected) and the Suffering Servant figure. Pure evil, or "radical evil", is a challenge to metaphysics, challenge that metaphysics should have the courage to mitigate, question unceasingly, even knowing that there is not a solution for the problem of evil as the more we deal with it, the more it grows dark and turns into a mistery. /// L'énigme du mal, le scandale du mal sous toutes ses formes, ne cesse de tarander la conscience humaine, il est le principal obstacle à la croyance en Dieu, et il a pris à notre époque des proportions si effroyables que les théodicées de jadis, souvent héroïques, ne sont plus possibles. L'étude ci-dessus ne cherchepasa les justifier, ni à disculper Dieu. Elle refuse également de dissocier le mal et les maux, la méchanceté et la souffrance, qui est souvent l'envers du crime. Elle aperçoit la synthèse et le nœud gordien du mal dans le malheur au sens de Simone Weil (haine, opprobre, souffrance indissolublement liés) et la figure du Serviteur souffrant. Le mal pur, le "mal radical", est un défi à la métaphysiaue, qu'elle doit avoir le courage de relever, de remettre en cause sans cesse, même s'il n'y a pas de solution au problème du mal, car plus on le creuse, plus il s'obscurcit en mystère.