Abstract
O objetivo deste artigo é apontar alguns problemas na relação entre esfera pública e emancipação na teoria do jovem Habermas. Para tanto, o recurso a dois textos habermasianos da década de 1960 é imprescindível: Mudança estrutural da esfera pública e Trabalho e Interação. No primeiro, Habermas fundamenta sua teoria pela perspectiva de uma esfera pública normativa, possibilitada pela configuração do período pós-guerra; no seguinte, além de utilizar outra categoria esfera pública, diferente daquela normativa, sua intenção é demonstrar como os indivíduos se formam no âmbito privado de suas existências. Todavia, em ambos os textos há uma linearidade acerca da fundamentação teórica: o trabalho e a interação simbólica são separados no que tange aos desenvolvimentos da humanidade. A emancipação estaria a cargo da interação, enquanto o trabalho somente proviria a subsistência genérica. Isto é decorrente de uma reformulação problemática na teoria marxiana no que tange ao trabalho social e à perspectiva da totalidade. É nesse imbróglio que este artigo se situa: verificar até que ponto o que Habermas compreende por trabalho poderia desbancar, de fato, a teoria de Marx; e, por outro lado, demonstrar que a crítica dialética marxiana acerca do trabalho social, caso levada em consideração por Habermas, faria a teoria deste perder a lógica de seus fundamentos, deslocando sua ideia de emancipação para uma aceitação da realidade efetiva vigente.