Abstract
Há meses a população mundial enfrenta a pandemia causada pelo COVID-19, uma situação ímpar e talvez a mais desafiadora que rememoramos. Para a maioria dos sujeitos, esta crise junta-se às demais emergências e reforça injustiças, violências, discriminações e sofrimento, uma vez que são considerados _invisíveis_ e sobrevivem em espaços desprovidos de higiene, saúde, educação e segurança e repletos de outras manifestações de _renúncia_ e _impossibilidade_. Considerando que a própria estrutura social é a responsável por chegarmos onde estamos, precisamos nos contrapor à inconsciência de uma realidade que se mostra normativa e imutável, apreendendo-a em perspectivas críticas e transformadoras. Dessa forma, este texto parte da seguinte problematização: quais alternativas poderemos vislumbrar no pós-pandemia, visto que as desigualdades e as injustiças aumentam? Delineamos prognósticos do tempo presente a partir do diálogo entre Adorno e Horkheimer (2006) e Santos (2007), utilizando como categorias de análise: racionalidade instrumental, pensamento abissal, pensamento pós-abissal e educação emancipatória. A racionalidade tornou-se o cânon da sociedade esclarecida, fundamentando as estruturas e relações sociais em uma percepção universal, totalitária e homogênea, que despreza e invisibiliza as diferenças. Defendemos uma educação para a contestação, a inquietude e a resistência, que desvele e problematize as linhas abissais a fim de pensarmos e agirmos para além delas, vislumbrando alternativas, novas práticas e perspectivas solidárias e sustentáveis, pois quaisquer ideais de progresso e desenvolvimento serão ilusórios enquanto persistirem a invisibilidade “do outro lado da linha”. A reflexão da realidade, em suas estruturas históricas e sociais, se efetiva como possibilidade de novos caminhos para a compreensão dos obstáculos e potencialidades emancipatórias.