Abstract
Trata-se, neste artigo, de investigar as noções de filosofia, pedagogia e espírito à luz dos debates decoloniais. Neste sentido, a partir de um diálogo que procuro estabelecer com Enrique Dussel, Catherine Walsh e M. Jacqui Alexander, desenvolvo três hipóteses. Em primeiro lugar, apresento certa noção de pedagogia como constitutiva da própria filosofia (portanto, a ideia de pedagogia para além de mero instrumento, meio ou termo acessório à filosofia). Em segundo lugar, argumento que essa dita pedagógica-filosófica precisará ser entendida como a epistemologia indispensável para a abordagem, conhecimento e tratamento da realidade, no seguinte sentido: mediante o aprender e o ensinar alternadamente (como práxis, atitude e método filosófico por excelência), tornar possível que a realidade apareça. E esse é mais um dos pontos em relação aos quais os três autores estão de acordo, assim como em relação ao terceiro e mais importante movimento da presente investigação. Pois será, então, do reconhecimento do fracasso da ontologia universalista (moderna e colonial), mais precisamente, do encontro com uma realidade indeterminada e aberta, que se poderá a fundo compreender o sentido da atitude pedagógica (da epistemologia pedagógica) que descerra toda a realidade possível. Tal realidade_ _sempre Outra_ _– que não se pode localizar em qualquer lugar ou tempo, na mesma medida em que se faz presente em todos os lugares e momentos – é o que se poderá caracterizar como espírito. E é o que fará do espírito, por conseguinte, agência de resistência e perturbação a todo esforço epistemológico/filosófico, tanto quanto (e por isso mesmo) da atitude pedagógica-filosófica instância de revelação de um mundo prenhe de sentidos possíveis.