Abstract

Este trabalho pretende investigar como uma série de metamorfoses em nossos regimes de visibilidade constituem o que chamamos de populismo algorítmico e subjetivação ptolomaica. Recorremos, inicialmente, aos conceitos de disciplina, espetáculo e transparência – trabalhados respectivamente por Foucault, Debord e Han – para melhor compreendermos a formação de certos regimes de visibilidade e sua conexão com o modo de produção capitalista. Em seguida, trazemos o campo da tecnopolítica como superfície de inscrição privilegiada das novas formas de visibilidade e lançamos atenção aos efeitos da filtragem algorítmica que produzem o que Pariser chamou de bolha-dos-filtros: a progressiva personalização dos conteúdos políticos, imagens e propagandas na internet. Argumentamos que esta ação de filtragem algorítmica está na base dos novos populismos, conforme as análises de Mouffe e Laclau. A partir de um sistema de equivalência de demandas insatisfeitas, as formas de laço social postas pelo atual populismo algorítmico se dão muito mais por uma frustração ou por um inimigo em comum do que por formas de idealização, tal qual nos mostravam a psicologia das massas analisada por Le Bon e Freud. Por fim, com o conceito de subjetivação ptolomaica, que consiste na produção tecnopolítica de um sujeito autocentrado e intolerante a tudo o que destoe do universo único a que o algoritmo deu exclusiva visibilidade, reencontramos os importantes temas do dogmatismo e do egocentrismo, trabalhados respectivamente por Kant e Piaget – o que, por sua vez, conecta o campo da Tecnopolítica ao campo da Filosofia da Educação no importante e atual tema das metamorfoses da visibilidade.