Uma abordagem enativa do papel de justificação da experiência perceptiva

In Inara Zanuzzi, Andre N. Klaudat & Lia Levy, Filosofia na UFRGS: textos escolhidos. Pelotas: Editora UFPeL. pp. 222-253 (2024)
  Copy   BIBTEX

Abstract

O debate acerca de qual é a natureza do conteúdo da experiência perceptiva ganhou novos contornos nas últimas décadas ao se introduzir a questão de se este conteúdo é conceitual ou não conceitual. Essa questão metafísica acerca da natureza da percepção é geralmente pressionada por uma outra de índole epistêmica: como a experiência perceptiva pode justificar crenças acerca do nosso entorno? John McDowell sustenta que, se a experiência já não tem um conteúdo conceitual de modo a apresentar o mundo como sendo de uma determinada maneira, acarretando assim um elo comum entre percepção e pensamento, então é difícil ver como a experiência poderia justificar uma crença, especialmente se entendemos a justificação em termos internalistas, como faz McDowell. Contrapondo-se a essa posição, Athanassios Raftopoulos alega que se a experiência perceptiva envolve conceitos intrinsecamente e, portanto, é penetrada cognitivamente, então a experiência não é independente das nossas crenças de fundo e, desse modo, não pode funcionar como um tribunal neutro de justificação, pois o apoio evidencial fornecido pela experiência é circular e epistemologicamente viciado. Neste texto, eu defendo uma explicação de como a experiência perceptiva mantém uma relação racional com o pensamento empírico. Na primeira parte, vou elaborar duas teses que são centrais para explicar o papel de justificação da experiência perceptiva segundo uma perspectiva minimamente internalista, a saber, a tese do conteúdo comum entre a percepção e a crença e a tese da independência da percepção em relação à crença. Indicarei as dificuldades que estão envolvidas na tentativa de conciliar essas teses. A primeira parece requerer o conceitualismo de conteúdo, enquanto a segunda parece implicar sua rejeição. Apesar de declarações em contrário, eu argumento que McDowell falha em fazer justiça à segunda tese em Mind and World. Na segunda parte, apoiado na teoria enativa da percepção, de Alva Noë, defendo uma leitura menos intelectualista da primeira tese, descomprometida com o conceitualismo de conteúdo, e mostro como ela pode ser conciliada com a segunda. Finalmente, explico como atos perceptivos que nos dão acesso direto a objetos podem coagir racionalmente o pensamento empírico acerca do mundo circundante. Essa explicação pretende fazer justiça a um internalismo que qualifico como mínimo.

Other Versions

No versions found

Links

PhilArchive

External links

Setup an account with your affiliations in order to access resources via your University's proxy server

Through your library

Analytics

Added to PP
2024-12-12

Downloads
101 (#215,649)

6 months
101 (#62,296)

Historical graph of downloads
How can I increase my downloads?

Author's Profile

Eros Carvalho
Federal University of Rio Grande do Sul

Citations of this work

No citations found.

Add more citations

References found in this work

What might nonconceptual content be?Robert Stalnaker - 1998 - Philosophical Issues 9:339-352.
What is at stake in the debate on nonconceptual content?José Luis Bermúdez - 2007 - Philosophical Perspectives 21 (1):55–72.
Empirical problems with anti-representationalism.Bence Nanay - 2014 - In Berit Brogaard, Does Perception Have Content? New York, NY: Oxford University Press.

View all 8 references / Add more references