Abstract
Trata-se de uma introdução interpretativa ao primeiro livro filosófico publicado por Simone de Beauvoir, Pirro e Cinéias (1944), que inaugura, segundo ela, após a eclosão da Segunda Guerra Mundial, o período moral de sua carreira literária e seu interesse particular em atribuir um conteúdo material à moral existencialista – junto de um livro publicado posteriormente, Por uma moral da ambiguidade (1947). Destaca-se, portanto, que Beauvoir é a autora que vai superar as oposições que separavam a natureza da cultura, o corpo do espírito, a liberdade da facticidade, a subjetividade da objetividade, o individual do coletivo, o particular do universal, de tal forma que sua alternativa será, no ensaio aqui estudado, pensar como as liberdades separadas entre si se reconhecem mutuamente para que o movimento ontológico de uma em direção à outra possibilite uma investigação do vínculo fundamental e indissociável entre os extremos mencionados. Com efeito, nossa conclusão é que Pirro e Cinéias anuncia duas das ideias centrais que esclarecem o período moral da literatura beauvoiriana, que é a individualidade de cada situação vivida, tal como as situações de suas personagens literárias, e o movimento das liberdades situadas em sua própria dimensão: a dimensão humana.