Abstract
Ao observar as traduções do relato anafórico institucional da terceira edição típica do Missal Romano nas diversas línguas vernáculas, nota-se que não há mais consenso a respeito da tradução da expressão pro multis como havia nas traduções das edições anteriores. Tal expressão tem sua origem no “Quarto Poema do Servo” de Isaías e vem utilizada nas palavras pronunciadas sobre o cálice nos relatos institucionais de Marcos e Mateus, estabelecendo-se uma relação intertextual. O presente artigo almeja ser uma contribuição que aprofunde o entendimento dessa relação para uma melhor compreensão do pro multis, sem ter, no entanto, a pretensão de apresentar uma solução definitiva para as questões que envolvem a sua tradução. Para isso, propõe-se apresentar os principais pontos que abarcam o debate a respeito da referida tradução; validar a relação intertextual entre o texto isaiano e os textos neotestamentários que são objeto deste estudo através de critérios apropriados; buscar no contexto veterotestamentário do termo hebraico, que se traduziu por multi, o seu sentido original e, em posse desses dados, verificar que sentido o termo adquire e que efeitos de sentido produz essa relação intertextual nas palavras pronunciadas sobre o cálice em Marcos e Mateus e na liturgia da Igreja latina.