Abstract
O artigo se propõe pensar, através das imagens de Border (2004), filme dirigido por Laura Waddington, a questão dos refugiados na periferia da região francesa de Sangatte, local que recebe diariamente fluxos incontáveis de imigrantes de todos os cantos. Nestas imagens, buscamos aproximar os refugiados com a questão dos espectros – estes seres de outra parte e de outro tempo que o mundo ocidental busca refutar, excluir de todas as maneiras –, como também com a questão da hospitalidade historicamente negada a estas vidas já tão dilaceradas pelas fugas da morte, da guerra, e que não desejam outra coisa senão uma nova possibilidade – uma nova terra – para poder recomeçar suas vidas. Theodor Adorno (e o “ideal do negro”), Hannah Arendt (e o seu ensaio pouco conhecido sobre os refugiados), Jacques Derrida (e o seu livro sobre os espectros e sobre a hospitalidade), Marielle Macé (via conceitos siderar e considerar) e Georges Didi-Huberman (suas exposições sobre os refugiados e sobre a sobrevivência dos vagalumes) iluminam, sem dúvida, a tentativa teórica e morfológica do presente texto.