Abstract
O Acontecimento transformador da pandemia não parece ter ainda sido de todo dimensionado, no Brasil, e talvez por toda parte. Um dos sinais mais explícitos dessa negligência analítica se revela no plano da Educação. Os efeitos pandêmicos aí persistem, e de maneira preocupante – um sem-número de levantamentos, pesquisas o tem evidenciado, em sua constância. Claramente, no campo formativo, a pandemia ainda não passou. Contudo, mostram-se precárias, incertamente eficazes as formas de enfrentamento em curso, ou até agora cogitadas. Em especial, causa assombro o recorrente descaso em relação à docência. Em inúmeros documentos, inclusive internacionais, o diagnóstico traçado em relação à pandemia demonstra preocupação com a experiência de aprendizagem, com o alunado, porém quase nunca com o professorado. Essa ausência é perturbadora. Que salas de aula e escolas são essas, com alunos, porém sem docentes? Estaríamos diante de um movimento inicial na direção da propalada ‘sala de aula do futuro’, onde só restariam os estudantes, mas não seus professores e professoras? Essa assimetria no tratamento de ambos os conjuntos – alunado & professorado – também aponta para outros sintomas preocupantes. A categoria docente se revela uma classe laboral crescentemente em crise de saúde – mental e física, em seu limite. Em vários países, se mostra até a classe adoecida por excelência. Uma nova categoria do(c)ente terá sido também um dos legados brutais da pandemia?