Abstract
Apesar das grandes transformações do conhecimento, o século XVI conservou numerosos produtos de fantasia que desempenharam uma influência considerável sobre os viajantes e navegadores. O encontro com mundos desconhecidos ou pouco conhecidos fez-se muitas vezes através de categorias mentais anteriormente estabelecidas. A lenda do Paraíso Terreal continuava activa na literatura cristã e teve grande popularidade nessa época. Como figura de estilo ou como firme convicção, os navegadores e os autores descreveram mundos como se fossem jardins edénicos. As imagens transmitidas reflectem o modo como a estrutura mental e cultural dos viajantes filtrava as informações recolhidas. Fruto da «utensilagem mental» dos narradores, o Paraíso surge como um conceito nostálgico, revelando-se, nas suas diversas representações, como um local privilegiado, aprazível, provido de todas as riquezas da criação, de clima ameno e terra fértil, sem enfermidades nem tristezas, repleto de aromas, cores e melodias de encantar, onde tudo se harmonizava na felicidade e imortalidade dos seres. É a criação de uma maravilha, construída fora da realidade que existe «para além das palavras» que lhe dão vida e revelam as ansiedades, e as várias maneiras de ver o possível e o impossível.