Abstract
Gadamer's philosophical hermeneutics rests largely on the concept of the classical. According to Gadamer, the classical stands for the continuity and the truth claim of the tradition, as transmitted by the written word. The normative character of the classical is directed against the neutrality and relativism of historicism: understanding does not occur primarily through distancing or methodological reconstruction but through belongingness to, and participation in, the past. The article shows how, given the central importance of dialogue and otherness in Gadamer's theory, the philosopher does not seem to fully do justice to the critical intention of its own dialogical and philological dimensions. On the other hand, it shows also how Gadamer's hermeneutical practice, notably in his rehabilitation of Plato, stresses the learning from otherness more explicitly than does his own theory, thus correcting, as it were, the latter. The article aims, finally, at demonstrating how, by unduly emphasizing the continuity in the encounter between past and present, Gadamer's theory undermines the importance of reconstructing the otherness and specificity of the classical text. /// A hermenêutica filosófica de Gadamer, entendida como uma defesa das humanidades, assenta essencialmente sobre o conceito de clássico. Segundo Gadamer, o clássico representa a continuidade e a pretensão à verdade da tradição tal como nos é transmitida pela palavra escrita. O carácter normativo do clássico em Gadamer constitui assim uma resposta crítica à neutralidade e ao relativismo do historicismo: a compreensão não acontece primariamente graças a um processo de distanciação ou reconstrução metódica, mas sim pelo facto de, desde logo, reconhecermos que temos pertença activa no passado. O presente artigo demonstra como, dada a importância central do diálogo e da alteridade na teoria de Gadamer, ofilósofo acaba por não fazer inteiramente justiça à intenção crítica inerente à dimensão dialógica e filológica do seu próprio pensamento. Mostra-se também, por outro lado, até que ponto a práctica hermenêutica de Gadamer, nomeadamente no que se refere à sua reabilitação de Platão, acaba por sublinhar a nossa aprendizagem da alteridade de uma forma muito mais explícita do que a sua própria teoria parece capaz de fazer. O artigo mostra ainda como, ao sublinhar de forma indevida a continuidade e, com ela, a identidade no encontro entre opassado e opresente, a teoria de Gadamer parece comprometer a importância que se deve dar ao esforço de reconstrucção da alteridade e especificidade do próprio texto clássico