Abstract
A notória seção da Fenomenologia do espírito sobre a figura do senhor e do servo tem inspirado diversas tradições da filosofia social e política desde Hegel. Este artigo explora duas variantes interpretativas centrais dessa seção: a agonística, popularizada por Alexandre Kojève, enfatizando a luta de vida ou morte, e a reconciliatória, focada no reconhecimento recíproco. Como as duas leituras, embora opostas, encontram respaldo no texto hegeliano, propomos a hipótese de que isso se deve ao modo de apresentação da Fenomenologia, que alterna entre as perspectivas da consciência natural e filosófica. Defendemos, então, que estas devem ser consideradas em sua interdependência a fim de evitar interpretações unilaterais. As apropriações críticas da “dialética do senhor e do escravo” feitas por Simone de Beauvoir e Frantz Fanon são mobilizadas, finalmente, para iluminar a ideia de que apreender a história como ela é experienciada é tão vital quanto descrevê-la como ela aparece “para nós”, filósofos.