Abstract
É notória a centralidade apresentada pelo fenômeno do nada no itinerário de pensamento de Martin Heidegger, na medida em que se afigura como fio condutor privilegiado para a compreensão de parte significativa de seu percurso filosófico. Não por acaso, a tese de que a origem ontológica do conceito de negatividade repousa no fenômeno do nada constitui um dos tópicos fundamentais de sua Auseinandersetzung com Hegel, orientada principalmente pelo intuito de superar a tradição metafísica em sua totalidade. O propósito desse artigo é estabelecer o alcance decisivo desse confronto a partir da mobilização de seu núcleo problemático interno, bem como de seus limites, questionando se esse conceito de nada, por Heidegger concebido a partir da morte, teria, de fato, estatuto mais originário que a negatividade hegeliana ou se também ele não estaria inscrito no horizonte de pensamento, a metafísica tradicional, que Heidegger procura superar. É precisamente a demonstração dessa segunda hipótese que constituirá o fio condutor desse artigo. Para tanto, buscaremos demonstrá-la analisando os elementos principais da crítica heideggeriana às noções hegelianas de negatividade e de morte. Em seguida, reconstruiremos os argumentos de Hegel acerca daqueles conceitos, esclarecendo, posteriormente, como o próprio Heidegger os descreve. Estes dois pontos permitirão, por sua vez, um exame mais detido das afinidades mantidas pelas respectivas abordagens, dos pressupostos por elas compartilhados e de algumas consequências dessas pressuposições para o pensamento heideggeriano.