Abstract
A dimensão de violência e radicalidade no pensamento de Merleau-Ponty, com suas implicações desestabilizadoras, é frequentemente perdida. A "carne", em Merleau-Ponty, não é pacífica. É um Ser explosivo e aberto, a partir do qual "consciência de si", "real" e "verdade", no sentido clássico, são impossíveis. O artigo pretende demonstrar que Merleau-Ponty cinde a distinção clássica entre real e irreal, engendrando uma profunda reorganização do campo do conhecimento e da ética, e tornando possível, de certo modo, uma fusão entre eles. Se o Ser é incompleto e aberto a interpretações, logo, não há verdades a serem conhecidas, temos apenas imagens do mundo e, correlativamente, imagens funcionam melhor para revelar a direção a que aponta o sentido em que se forma o mundo do que o assim chamando conhecimento absoluto. Assim, aceitar a dimensão criativa da interpretação tal como requerida pelo próprio mundo permite entender que não se pode entender o mundo sem agir e agir é ajustar o equilíbrio entre, por um lado, a atenção paciente devida ao sentido nascente nas situações e, por outro lado, à forma rigorosa dos elementos dados do sentido que são "neles mesmos" sempre dispersos e ambíguos.