Os sentidos da Eleuthería na República de Platão
Abstract
O sentido do termo eleuthería, similarmente a muitos outros conceitos na obra de Platão, não é unívoco. Mesmo se nos restringirmos ao diálogo República, encontraremos nele uma ampla gama de concepções que vão desde a acepção popular de ‘dizer e fazer o que se quer’, até a significação, mais propriamente filosófica do termo; vale dizer também daquela que envolve uma dimensão psicológica e moral, na qual o homem deve buscar agir de acordo consigo mesmo. Esta atividade ética, que Platão (2006) (seguir o modelo de citação indireta) insiste em chamar de política (Rep. IX, 592 a5 – a9), baseada no “cuidado de si” tornar-se-á uma pré-condição que prepara o homem para a vida junto aos outros homens e para outras ações derivadas, como o governo da pólis, a produção de leis e, também, para as atividades investigativas, tais como o diálogo e a dialética. Encontramos, pois, naquele diálogo, um verdadeiro embate entre algumas concepções rivais de eleuthería, por exemplo: Trasímaco acredita que o tirano é o mais livre dos homens (Rep. I, 344 a) enquanto Sócrates, ao final do diálogo, defende que o tirano jamais experimentou a liberdade (Rep. IX, 577 a). Assim, este artigo se propõe, então, investigar e circunscrever, a partir do exame da República, os sentidos da eleuthería, fixando a atenção no seu significado propriamente filosófico