Ainda o cogito: uma reconstrução do argumento da Segunda Meditação

In Marco Zingano, Fátima Regina Évora, Paulo Faria, Andrea Loparic & Luiz Henrique Lopes dos Santos, Lógica e Ontologia. Ensaios em Homenagem a Balthazar Barbosa Filho. Discurso Editorial. pp. 209-232 (2004)
  Copy   BIBTEX

Abstract

O termo “cogito” designa de modo genérico e impreciso um argumento que Descartes propõe em diversos momentos de sua obra. De um modo geral, os comentadores, tal como o fizeram os interlocutores contemporâneos ao autor, consideram que a expressão “penso, logo existo” (cogito ergo sum), ausente das Meditações Metafísicas, resume adequadamente este argumento único e procuram esclarecê-lo ou criticá-lo, nem sempre levando em consideração as diferentes formulações que recebe e os diferentes contextos em que ocorre. Meu objetivo neste texto é simplesmente analisar o quarto parágrafo da Segunda Meditação (AT VII, 24-25; IX-1,19), no qual ele supostamente apresenta este mesmo argumento sem empregar a famosa expressão. Das muitas, diversas e relevantes questões filosóficas que este argumento suscita, gostaria de me concentrar em investigar se ele pode ser reconstruído sem que seja necessário introduzir – como uma premissa não justificada – a concepção do pensamento como sendo essencialmente consciência de si e, portanto, como envolvendo - por definição, a auto-referência imediata e incorrigível do sujeito a si mesmo. Gostaria de poder mostrar que o argumento não apenas independe dessa concepção como, além disso, conduz a essa concepção; todavia, somente o primeiro passo em direção a esta interpretação será dado neste artigo. Quanto à expressão “penso, logo existo”, minha hipótese é que, embora ausente do texto, ela, de fato, resume o sentido geral da posição cartesiana. Sua ausência explica-se pelo fato de que Descartes pretende apresentar nas Meditações a versão mais completa de seu argumento e a passagem que será aqui analisada constitui, na realidade, apenas uma primeira etapa dessa versão. A análise e a reconstrução que serão propostas supõe que o argumento apresentado no parágrafo 4 deva ser compreendido, como propõe H. G. Frankfurt, como composto de quatro etapas, cujo sentido depende do contexto argumentativo mais amplo no qual estão inseridas, como observou Jean-Claude Pariente, em seu artigo sobre o cogito nas Meditações Metafísicas. Nesse sentido, a estrutura do presente artigo seguirá essas etapas.

Other Versions

No versions found

Links

PhilArchive

External links

  • This entry has no external links. Add one.
Setup an account with your affiliations in order to access resources via your University's proxy server

Through your library

Analytics

Added to PP
2023-04-01

Downloads
352 (#87,281)

6 months
106 (#64,002)

Historical graph of downloads
How can I increase my downloads?

Author's Profile

Lia Levy
Federal University of Rio Grande do Sul

Citations of this work

No citations found.

Add more citations

References found in this work

No references found.

Add more references