Abstract
A partir de uma leitura contextualista de um tratado argumentativo redigido pelo frade franciscano frei Miguel da Purificação, na quarta década do século XVII, e vinculando-me a alguma historiografia que, nas últimas décadas, repensou as articulações entre religião e imaginação política em contexto imperial, procuro discutir, neste artigo, alguns dos efeitos que o processo de conversão ao Cristianismo das populações de Goa teve sobre as identidades dos portugueses aí estabelecidos. Não são apenas as posições que os diferentes grupos ocupavam na ordem colonial, mas também a maneira como essas posições foram percebidas e consciencializadas por determinados actores que, ou as reiteraram, ou as procuraram alterar (nomeadamente através da produção de discursos de teor identitário que intervinham directamente na acção política), aquilo que se procura sondar, com o objectivo de resgatar o papel que os textos (os seus argumentos, as suas enciclopédias e bibliotecas) desempenharam, não só enquanto expressão de um arranjo social, mas também enquanto actores dos processos históricos.